quarta-feira, 14 de maio de 2014

Um amor aos 6 anos de idade...

Eu devia ter uns 6 anos de idade. Um toco de gente. E já nesta época, passávamos todas as férias em Uberlândia - MG. Às vezes também íamos para Ituiutaba ver minha avô paterna, mas era em Uberlândia que ficávamos a maior parte do tempo, na casa de minha avó materna.

E o programa naquela cidade ou era visitar os primos e parentes, ou era ir ao clube da cidade. Lá tinha um enorme, parecia um clube de campo, chamado Praia Clube. E nós adorávamos passar os finais de semana lá, em meio a tantas possibilidade de nos divertir, fosse na piscina, na represa, nos parquinhos. Mas como íamos com minha mãe, acabávamos nos divertindo na piscina, mesmo, onde ficava a maioria as pessoas e os conhecidos dela.

Por ter nascido lá, minha mãe conhecia todo mundo da cidade. Então, a piscina era como se fosse um palco para atividades sociais, com parente, filhos e filhas de amigas da minha mãe. Ela sempre prezou muito os relacionamentos e fazia um social de dar inveja a qualquer promoter dos dias de hoje.

E foi em um fim de semana desse tipo que eu conheci uma menina que sempre ficava na piscina com o seu avô. Diria a minha mãe, anos depois, após eu lhe contar a história, que o avô era conhecido dela e a menina era a filha de uma amiga. Mas na época eu não tinha a menor idéia de quem fosse.

Mas o fato é que eu a vi pela primeira vez, em uma tarde ensolarada de domingo, com uma leve brisa soprando em seus cabelos lisos. Eu me apaixonei por ela no exato momento em que a vi. Será que era isso mesmo? Estar apaixonado com 6 anos de idade? Sei lá, mas era algo que eu nunca havia sentido antes. Era um desejo de estar perto dela, de vê-la, mesmo que distante, ali com o seu avô.

Ela tinha a minha idade (me parecia), tinha os cabelos lisinhos escorridos, usava um maiô estampado só com a parte de baixo e era do meu tamanho. E eu, tinha o cabelo lisinho escorrido, usava um shorts simplesmente igual ao dela com a mesma estampa. Além disso, tínhamos os traços impressionantemente parecidos, como se fôssemos gêmeos. Tal fato é tão verdadeiro que o avô dela costumava pegá-la no colo e jogá-la na piscina de onde ela voltava nadando de cachorrinho, mas que naquele dia se confundiu. Ele, olhando pra mim, me pegou pelo colo, pensando que fosse a neta, e me arremessou piscina a dentro. Mas nós tínhamos uma pequena diferença: ela sabia nadar de cachorrinho e eu não. Bom, quase morri afogado e fui retirado da água por algum salva-vidas, tossindo horrores e apavorado! O avô só descobriu que não tinha jogado a neta, quando, após me arremessar na piscina, viu sua linda netinha ao lado e um toco de gente afundando no meio da piscina.

Ela nunca me deu a menor bola, acho que nem reparou que eu existia. Acho que ela nem pensava nessas coisas, afinal tinha 6 anos de idade e queria mais era brincar e se divertir. Mas foi a primeira vez que eu senti uma pontinha de dor por não ter os olhos de quem eu gostava voltados pra mim.

Após esse incidente, nunca mais a vi na piscina com o seu avô. E toda vez que eu ia no clube e não a via, pensava: amanhã ela virá. Mas isso nunca aconteceu e os anos passaram... muitos anos se passaram.

Em um certo dia, comentando com a minha prima e com a minha mãe sobre a história, minha prima disse que a menina dos cabelos ao vento era irmã de uma grande amiga dela. Então, no embalo, disse a ela que gostaria de saber como ela estava hoje em dia e se ainda se parecia de alguma forma comigo. Era mais uma curiosidade que tinha ficado nos meus 6 anos de idade, mas que, pela oportunidade presente, valia à pena ver o que os anos fizeram com as duas crianças que brincavam na piscina do Praia Clube.

Consegui o contato da casa da mãe dela e liguei contando a história. Bem, a história não colou muito e a mãe ficou achando que eu era um pirado que poderia fazer mal a filha, que naquela altura do campeonato estava casada e com filhos. Eu até tentei mais um pouco por intermédio da minha prima, mas sem sucesso. Me acharam louco mesmo. Um louco que preza suas lembranças e glorifica o seu passado.

Enfim, não pude reencontrar e matar a curiosidade de saber como estaria a menininha que me encantou aos 6 anos de idade. Uma pena. Era uma curiosidade na melhor das intenções, apenas por querer saber como ela seria tantos anos depois.

Mas permanece a lembrança desse episódio, na minha tenra infância, aos 6 anos de idade. Talvez fosse até um traço meio narcisista (considerando que ela era a minha cara) se apaixonar como que pelo espelho... sei lá...

Saudades de uma fase singela, de uma infância pura e de um bem querer de criança descobrindo o mundo e os sentimentos que o habitavam naqueles idos anos, cheio de cores e de diversão, onde o mundo ao redor era imenso demais para que eu pudesse abraçá-lo, mas pequeno demais frente a minha sede em conhecê-lo.

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