sexta-feira, 9 de maio de 2014

Meu pai, jabuticabas e uma guariroba assassina...

Meu pai veio hoje me visitar no trabalho. Isso hoje em dia é até comum, pois o meu trabalho fica a um quarteirão da casa dos meus pais e irmãos e a um quarteirão da minha nova casa. Em São Paulo isso chama-se luxo ou simplesmente qualidade de vida.

Mas então, eu falava do meu pai. Ficamos conversando sobre seus planos de futuro. Vejam bem, ele vai fazer 81 anos na sexta-feira. Entre conversas e causos, ele de repente me conta que minha mãe trouxe de Minas um pedaço de Guariroba. Pra quem não conhece, Guariroba é um tipo de palmito amargo. Meu pai foi pegá-lo do chão, escorregou e deu com o peito em cheio na Guariroba. Tá com o peito doendo desde ontem e eu pedi para ele ir ao médico ver se a Guariroba não causou maiores estragos. Guariroba assassina, disse eu a ele. E ele: "Minha vingança foi comê-la por inteiro até lamber os beiços!"

Então a conversa evolui para o prêmio da mega sena. Se ganhasse, disse meu pai, compraria umas terras perto do Rio Grande, lá em Minas, do lado de lá do Rio, onde se atravessa por uma ponte antiga de ferro, que me lembro nas viagens à Uberlândia e Ituiutaba. Começou a citar o que gostaria de ter lá nas terras. Iria mandar buscar na Embrapa de Recife umas mudas de Coqueiro Anão, que, pelo nome, dá coco na altura do peito, nem precisa escalar. Também compraria mudas de guariroba, melancia, entre outras.

Mas foram as Jabuticabas que me chamaram a atenção. Disse ele que quando pequeno, no quintal da casa onde moravam, havia quatro pés de Jaboticaba e cada um era de um dos irmãos. A dele, com o passar do tempo, acabou se tornando a menor delas, meio que anã, mas que dava as melhores Jabuticabas. Eram tão grandes que era preciso girar a Jaboticaba para não estourá-la no pé. Gorda, preta, casca fina e com alguns rajados na ponta. Suculenta. Daquelas que soltam um sonoro ploft quando o dente as mordem.

Certo dia, minha vó tirou uma muda da Jabuticabeira dele e mandou para uns primos que tinham fazenda no interior de Minas. O fato é que a muda tornou-se uma frondosa Jabuticabeira que existe até hoje. Um dos sonhos do meu pai e mandar buscar de volta e replantá-la nas terras do Rio Grande.

Disse ele que não quer sementes, pois precisa de tempo pra crescer e se desenvolver. Prefere as mudas. Como se não fosse viver mais tempo suficiente para apreciá-las e vê-las crescer. Bobagem. A saúde lhe tem sido privilegiada e entra ano e sai ano, ele parece mais forte. Não será uma guariroba assassina que privará meu pai de chupar sua Jaboticaba no pé, lá em suas (futuras) terras à margem do Rio Grande.

Isso me faz ver o quanto o tempo e a sabedoria acabam por buscar a felicidade em coisas tão simples, pois mesmo com um prêmio de milhões de reais, a vontade de meu pai é essa: um fértil pomar e uma casa na beira do Rio Grande. Carro? Pra que. Ele não vai querer sair de lá nunca...

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