sexta-feira, 9 de maio de 2014

A prosa, um rio e o tempo...

Eu gosto de prosa. Poesia, às vezes. Dizem que proseiro é poeta frustrado que não se encaixou nas métricas, nas formas amorfas das palavras. Eu gosto de prosa. Prosa é fluídica e contínua. Poesia são palavras aprisionadas. Que me apedrejem os poetas. Os poetas são lindos e tristes. A melancolia é nata na condição da escrita. Penso em Vinícius e o seu poema de aniversário. Profundo, imensurável e apaixonado. A sua amada é a única existência plausível no universo. Mas por apenas um momento. Vinícius amou muito várias vezes. O seu estado era permanentemente de apaixonado, não necessariamente pela mesma amada. Foram 10 ou 11 esposas? A amor se aprende pela quantidade ou pela intensidade? É possível as duas coisas juntas? E aos amantes de uma amada só, o que lhes cabe? E aqueles cuja amada é uma fantasia, fantasiada por uma vida inteira? E aqueles que nunca amaram? Viveram? Dizem que felicidade não existe, o que existe são momentos felizes. Será? E o que mais é a vida que uma sequência interminável de momentos?

Penso no rio que passa atrás daquela casinha de madeira na qual permaneci emudecido. Vejo o rio e sempre ele. O rio tem alguma coisa comigo e eu com ele. Ele corre, ele vai. Ele não para para nada. Ele não vive momentos, pois o tempo lhe é contínuo. E ele é tão lindo! Seus seixos são as hemácias deste sangue translúcido e cristalino. O rio pulsa latejante. O rio não tem forma, pois a forma é limitadora. Pois a prosa é como um rio que se desforma pelo caminho. Não tem começo, nem meio, nem fim. As palavras devem correr soltas, sem amarras, sem regras, com um rio que nada sabe sobre si e só se chama rio porque alguém um dia o nomeou assim. Poderia chamar-se terra, furacão, vento. Qualquer coisa, que teria o mesmo significado pra mim. E mesmo assim, formaria seixos, limo e transbordaria vida por onde passasse. É um tempo sem fim. Uma prosa inacabada. Um rio. Três palavras e um sentido único.

Escrever é isso. Pois a intenção de quem escreve não é ser apreciado, mas libertado. Se há o certo ou se há o errado, isso é apenas um mero ponto de vista em total abstração aos olhos de quem lê.

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