quinta-feira, 29 de maio de 2014

Nossas escolhas...

Depois de muita caminhada eu aprendi que o caminho certo é sempre o seu caminho, não o do outro. É comum a gente ficar pensando se deveria ter feito isso ou aquilo, ter dado aquele passo, ter ficado naquele emprego. Mas daí, você vai juntando os pedaços e descobrindo que todos eles seriam certos. Louco, né? Não importa qual a decisão, ela sempre será a certa, pode apostar. Eu sempre penso que existe uma orquestra lá em cima que comanda o show, nos orienta e nos move a afinar nossos instrumentos. 

Poucas coisas na vida eu me arrependo de ter feito. Poucas. Às vezes eu posso até achar que a forma poderia ter sido diferente, mas não a decisão. Pois é muito fácil a gente olhar para o passado e querer avaliá-lo com a cabeça do presente. Tanto já passou, tanta água rolou por debaixo da ponte que é no mínimo injusto fazer isso. Acho que tudo o que foi feito, nos trouxe uma lição, uma aprendizagem especial, que não poderia ter sido de outra forma. Aliás, só somos o que somos hoje, por todas as escolhas que fizemos. Elas até poderiam ser diferentes. Mas nós seríamos diferentes também. Seguiríamos outro caminho, talvez completamente inusitado.

Tome uma decisão! Qualquer que seja ela, você estará certo! O importante é tomá-la. A indecisão mata aos poucos. A indecisão nos consome por dentro e adia o novo caminho. Não se iluda: toda escolha implica em renunciar a algo. Toda escolha implica em correr riscos. Renuncie, abra mão, deixe ir, desapegue, corra riscos. Muitas vezes eu fui (e ainda sou) julgado pelas decisões que tomei, pelos riscos que corri. A gente nunca vai acertar todas, mas vai aprender muito todas as vezes. E eu acho que estamos aqui para aprender sempre e não acertar de vez em quando. O erro às vezes traz uma carga emocional que solidifica o aprendizado.

Muitas pessoas fazem planos para daqui há 5 ou 10 anos. Isso serve pra elas. Eu deixei de pensar muito no futuro, penso mais no presente. Eu procuro me ocupar com a coisa só quando ela acontece. Já dizia um certo provérbio que diz: Se o problema é grande demais, não adianta pensar nele. E se ele é pequeno demais, não vale à pena pensar nele.

Eu faço o meu melhor e deixo o resto com a vida, Deus, anjo da guarda, amigos espirituais, ou qualquer nome que você queira dar a essa energia que nos rodeia. Eu não busco preencher as expectativas das pessoas, pois a gente nunca consegue isso. Se alguém espera algo de você, isso é um problema dela, não seu. Inconsequência? Loucura? Insensatez? Não julgue. Julgar não faz parte do aprender. E às vezes para aprender uma lição a gente precisa cair, se desarmar, nos tornarmos mais humildes. 

Às vezes só na escuridão a gente aprende o que é luz.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Acorda Brasil!!!!

Eu venho acompanhando as manifestações no Brasil, assim como a maioria dos brasileiros. E as demandas são diversas. É aumento de salário, condições de trabalho, aumento das tarifas do transporte público, gastos com a Copa do Mundo no Brasil e por aí vai. O povo está descobrindo o seu poder de mobilização, seja através dos sindicatos, seja através das redes sociais ou seja por insatisfação pessoal. Há de tudo. Mas a maioria é de reivindicações de classe, não pelo Brasil, não pelos brasileiros. Cada um pensa no seu e não no coletivo maior que é o país.

Porém, pouco se fala sobre a corrupção, o custo dos políticos e da máquina do Governo. Em uma rápida pesquisa, há como levantar alguns números de arrepiar. Em 2013, só em impostos, o brasileiro pagou algo em torno de 1.7 trilhão de reais. É uma montanha de dinheiro que daria para consertar todo o sistema de saúde, educação, transportes e infra-estrutura do país. No entanto, 8.6 bilhões vão para sustentar o elefante branco e gordo que é o Congresso Nacional. O custo médio de 1 político no Brasil é de 117 mil mensais, o mais caro do mundo! E temos mais de 60 mil políticos.  Ou seja, esse povo custa por volta de 85 bilhões ao ano. Só em corrupção, segundo a ONU, anualmente vai pro ralo mais de 200 bilhões. Por aí a gente percebe onde está o problema.

Um político deve ganhar um salário compatível com a realidade dos brasileiros, é necessário cortar todos os benefícios atrelados ao cargo que não estejam disponíveis a todos os brasileiros, deve ser obrigado a utilizar o sistema de saúde que eles mesmos disponibilizam para a população (o SUS) ou pagar um particular do próprio bolso, tem que ter nível superior para pleitear o cargo, ficha limpa e conduta imaculada. Os brasileiros pagam impostos que tem de ser revertidos em benefícios para a população.

As manifestações são um caminho plausível para essa conquista. A imprensa livre e a liberdade de expressão também. Mas uma manifestação tem um limite muito tênue com uma massa de manobra política. Eis o perigo.

O governo praticamente não tem oposição. Faz o que quer e como quer. As manifestações (ainda muito fracas) são ofuscadas por cenas de vandalismo. É assim que os países de primeiro mundo nos vê. Os brasileiros que morrem nos corredores de hospitais públicos são os mesmos que votam no governo que mantém sistemas de saúde precários e programas sociais populescos e eleitoreiros. Político não quer resolver os problemas do país. Quer voto, pois voto=dinheiro=poder. Os poucos que conseguiram quebrar esse paradigma, alguns ministros do supremo, ainda tem de ouvir de um ex-presidente em entrevista internacional, que é tudo político, ou seja, temos uma corte suprema que decide contra a moral e a ética.

Ser político deveria ser uma meta pessoal e de idealismo em ajudar o país a crescer, não de enriquecer a si próprio. Há países em que o políticos não ganham salário ou ganham um salário mínimo.

O Brasil tem condições e dinheiro. Não tem é vergonha na cara! 


quinta-feira, 15 de maio de 2014

Saiba como identificar psicopatas no mercado de trabalho.

Matéria do G1 muito interessante sobre os psicopatas do mundo corporativo. Vale à pena ler!

Por Anne Barbosa, do site G1 - São Paulo

"Pesquisa aponta que 16% dos CEOs e altos executivos são psicopatas. Transtorno é caracterizado pela ausência de empatia em relação ao outro."

Eles parecem atenciosos e dedicados ao trabalho, mas, na primeira oportunidade, apunhalam pelas costas colegas que confiaram neles. Mentem sistematicamente, arruínam funcionários e até cometem crimes, como fraudes na contabilidade e eliminação de qualquer prova que os condenem. Tudo para conseguir o que querem. Não se trata de profissionais apenas ambiciosos. São o que os especialistas em comportamento chamam de psicopatas corporativos.

Os CEOs, diretores executivos das empresas, estão no topo do ranking da psicopatia, segundo pesquisa da Universidade British Columbia. Entre a população em geral, até 4% são considerados psicopatas. Entre os CEOs e altos executivos, o índice chega a 16%.

"Isso quer dizer que na população mundial, cada um de nós conhecerá pelo menos 15 psicopatas ao longo de sua vida. Imagine quantos deles são os líderes que conhecemos", diz Luiz Fernando Garcia, CEO da Cogni-MGR, empresa especializada na modificação de comportamento de líderes.

Como identificar

"A psicopatia é um traço de personalidade, caracterizado pela ausência de empatia em relação ao outro, sendo a realização dos desejos individuais o objetivo fundamental que mobiliza as ações do psicopata", afirma Rubens Luis Folchini Fernandes, psiquiatra do Hospital Israelita Albert Einstein.

Segundo o especialista em comportamento de líderes, Luiz Garcia, profissionais com traços de psicopatia se caracterizam pela recusa do "não" como resposta, por não reconhecerem limites e não sentirem culpa pelos seus atos. "Essas características que podem ser equivocadamente privilegiadas pelas organizações que buscam resultados de curto prazo e que têm na rentabilidade o seu maior valor”, diz.

Com ajuda da empresa Cogni-MGR, o G1 listou algumas características para ajudar a identificar os psicopatas no ambiente de trabalho. Confira:

Tem um encanto superficial – O psicopata tem alto poder de sedução e capacidade para manipular as pessoas no início de relacionamentos. "Eles são pessoas, à primeira vista, 'muito normais', de notável capacidade sedutora e convencimento, podendo inicialmente enganar até mesmo os clínicos mais experientes. São essas características que levaram o autor Hervey Cleckley a utilizar o termo 'máscara da sanidade''', segundo o psiquiatra Rubens Fernandes.

Mente sistematicamente – Mentir é uma “ferramenta de trabalho” do psicopata. A mentira alimenta a personalidade egocêntrica dele, que gosta de mostrar que é o melhor, o mais rico, que pode tudo.

Não sente afeto – Ele é indiferente ao sentimento dos que o rodeiam. Tem baixa inteligência emocional. Simplesmente não consegue perceber o que as pessoas à sua volta estão sentindo.

Não tem moral ou ética – Para o psicopata, ética e moral não existem – apenas necessidades e objetivos a serem alcançados.

É impulsivo – A falta de moralidade leva à tomada de decisão sem ponderar pessoas e coisas envolvidas.

É incorrigível – Como não tem moral ou sentimento de culpa, a mente do psicopata não vê motivos para corrigir o seu comportamento.

É um hábil manipulador – Não mede esforços para mudar as aparências e trazer as pessoas para o seu lado nas mais adversas situações.

Não é social – Por ser excessivamente egocêntrico, tem dificuldade de se relacionar com as pessoas. Só faz isso quando há interesse em benefício próprio.

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Lembranças de infância...

Meu pai sempre gostou de viajar, de pegar estrada. Como bom mineiro que sempre foi, de uma cidadezinha do triângulo mineiro, gostava da natureza e da beleza que ela exibia. Sempre me lembro dele me mostrando alguma espécie de árvore, um novo nome de fruta, nas andanças que fazíamos pelo interior de Minas.

Minas sempre foi minha referência maior, pois toda minha família é mineira, apenas eu e meus irmãos nascemos em São Paulo. Então, quando as férias chegavam, lá íamos nós para Minas. Eram horas e mais horas de viagem pelos mais diversos tipos de paisagens bucólicas, nas estradas que parecem existir só em Minas. E tudo era uma aventura, desde brigar com meus irmãos para ver quem ia na janela e quem ficava no meio do banco, até parar naqueles postos de gasolina para fazer xixi e comer doce de leite.

Mas algumas lembranças são mais fortes dessas viagens. Durante o percurso de mais de 8 horas de estrada, meu pai sempre comentava conosco sobre os infindáveis campos de capim-gordura à margem das estradas, das plantações de milho, café, cana-de-açucar e laranja que verdejavam a paisagem. Perdi a conta de quantas vezes ele parava o carro no acostamento só para bater foto de Ipê. "Nó sô, era bunito dimais da conta!" Aqueles Ipês solitários pairando, quase que suspensos no ar, sob os campos de capim-gordura.

Como as viagens eram constantes e as aulas que meu pai dava sobre a natureza também, ele sempre fazia chamada oral durante a viagem, de modo a saber como andava nosso interesse e conhecimento sobre seus ensinamentos. E as perguntas variavam: "Que plantação é essa?", "Que tipo de capim é esse?", "Aquilo é um Ipê ou uma Quaresmeira?", "Qual daquelas árvores é um pé de jenipapo?"

Tem duas coisas que meu pai ama fazer: pescar e observar as árvores e seus frutos. Conhece tudo esse mineiro. E eu aprendi com ele a gostar da natureza, de observar as espécies e seus frutos. Só não aprendi a pescar e nem vou aprender. Eu sempre perguntava a ele: Pai, que graça tem enfiar um ferro pontudo no fiofó da minhoca e ficar rasgando boca de peixe? Ele ria e dava de ombros:)

A herança disso tudo é que hoje eu consigo ouvir passarinhos no meio do barulho infernal do trânsito de São Paulo. Já me peguei várias vezes engarrafado na marginal do rio Pinheiros, observando as garsas e capivaras na beira daquele lixo todo. Ou uma debandada de passarinhos de algum pé de fruta. Nomes como jatobá, guariroba, gabiroba, ata, coquinho-de-vassoura, mangostim, jenipapo, fruta-de-lobo, entre outras, eu aprendi observando as observações do meu pai sobre as coisas que via.

Há algum tempo me brotou a idéia de entrevistá-lo em vídeo para a posteridade. Para que possam ser guardadas todas as histórias que ele viveu, as pessoas que conheceu e como foi a transformação do mundo através de seus olhos sempre observativos.

E isso é algo que não se pode postergar muito, pois nunca se sabe até quando você terá a chance e o privilégio da companhia do teu pai.

Mas eu carrego comigo o impulso contemplativo do meu pai, sobre as árvores, os frutos e os animais. Quer herança melhor?

Dia dos Namorados...

Ah, esses amantes incorrigíveis! Esses seres que emanam luz própria e que compartilham com o mundo essa felicidade que não cabe em si própria. Partilham entre si carícias, afagos, confidências, olhares, cheiros e manias sem fim. E que graça possuem ao passar por nós... Passam como se o mundo estivesse magicamente colorido, como se o mundo fosse só flores!

Em cada abraço apertado, em cada beijo demorado, ei-los aqui: os namorados. Com seus apelidos carinhosos que só eles entendem: nome de coisas, de frutas, de legumes, de verbos, de tudo! Como são criativos os amantes, e como se permitem um viver explícito sem censuras, sem medos e cheios de anseios e desejos. Desejo de que aquelo momento único dure a vida inteira, dure a eternidade, dure intensamente mesmo que por alguns meses, dias, horas ou segundos.

As mãos dadas pela rua, o sorvete beijado, a flor repentina, a poesia escrita em guardanapos, o colo, o encontro de corpos, a mistura de fluidos, a imortalidade do momento, como se uma fotografia fosse. O desejo de ser um só.

O amor transita por fases. Quando surge, o amor se inflama, ofusca, cria uma leveza de alma sem precedentes. Quando perdura, ele acolhe o outro, ele acompanha, ele acalenta e dá direção. Quando estabiliza, o amor suaviza os ânimos, traz calma e mansidão; traz aconchego e segurança.

O amor é como um rio que surge em sua nascente, manso e sereno. Encontra outras águas, se mistura, corre sobre as pedras dando curvatura aos seixos, despenca em uma queda profunda, se espuma, se torna líquido e consistente, percorre novos caminhos, para enfim, desaguar no mar. O rio sempre quer ser mar.

É da natureza do amor buscar o equilíbrio. É da natureza do amor... serenizar. 

Ilegal, imoral ou engorda...

"Tudo o que eu gosto é ilegal, é imoral ou engorda". Sempre gostei desta frase, que, apesar de ser título de uma música do Roberto, me parece que não é dele, mas sim, algum tema de um escritor ou jornalista nos anos 60/70.

Outro dia eu estava analisando esta frase e me peguei pensando que ela, de algum modo, representa umas fases de vida que a gente passa. Quando se é adolescente, a gente está mais pra coisas ilegais, como experimentar drogas, pegar carro escondido, cometer algum pequeno delito sem maiores consequências. É a fase do que é proibido é sempre mais interessante. A fase do descobrimento, das atitudes contrárias, de ir contra isso, contra aquilo. De reivindicar tudo, achar que tudo está errado e que você é o grande questionador e aquele que enxerga as falhas da sociedade.

Depois vem a fase imoral. Descobrindo o sexo e suas possibilidades, a gente se pega indo contra a moral e os bons costumes, descobre os prazeres por trás das coisas, o desejo que brota à flor da pele. Transa dentro do carro, experimenta repetir aquela cena da pia de Atração Fatal, beija babado na frente dos transeuntes, e se coloca nas situações mais inusitadas, nos lugares mais inapropriados. Usa brinco, faz tatuagem e um monte de coisa que sua vó ficaria de cabelo em pé.

Mas chega uma hora que isso perde a graça, não há mais coisas ilegais que você gostaria de fazer, e nem imorais, pois os padrões mudaram bastante e o que era antes imoral, hoje é perfeitamente normal e aceitável.

Por fim, me resta dizer que atualmente tudo o que eu gosto engorda:) Depois dos trinta tudo o que de fato lhe proporciona prazer instantâneo engorda. Aliás, engorda muito! Não, eu não estou acima do peso, longe disso, mas depois de uma certa fase, o metabolismo não colabora mais e se você vacilar fica com cinturinha de quibe do Habib's.

Nos tempos atuais, eu posso dizer que tudo o que eu gosto já não é mais ilegal, nem imoral... mas engorda pra caramba...

Um amor aos 6 anos de idade...

Eu devia ter uns 6 anos de idade. Um toco de gente. E já nesta época, passávamos todas as férias em Uberlândia - MG. Às vezes também íamos para Ituiutaba ver minha avô paterna, mas era em Uberlândia que ficávamos a maior parte do tempo, na casa de minha avó materna.

E o programa naquela cidade ou era visitar os primos e parentes, ou era ir ao clube da cidade. Lá tinha um enorme, parecia um clube de campo, chamado Praia Clube. E nós adorávamos passar os finais de semana lá, em meio a tantas possibilidade de nos divertir, fosse na piscina, na represa, nos parquinhos. Mas como íamos com minha mãe, acabávamos nos divertindo na piscina, mesmo, onde ficava a maioria as pessoas e os conhecidos dela.

Por ter nascido lá, minha mãe conhecia todo mundo da cidade. Então, a piscina era como se fosse um palco para atividades sociais, com parente, filhos e filhas de amigas da minha mãe. Ela sempre prezou muito os relacionamentos e fazia um social de dar inveja a qualquer promoter dos dias de hoje.

E foi em um fim de semana desse tipo que eu conheci uma menina que sempre ficava na piscina com o seu avô. Diria a minha mãe, anos depois, após eu lhe contar a história, que o avô era conhecido dela e a menina era a filha de uma amiga. Mas na época eu não tinha a menor idéia de quem fosse.

Mas o fato é que eu a vi pela primeira vez, em uma tarde ensolarada de domingo, com uma leve brisa soprando em seus cabelos lisos. Eu me apaixonei por ela no exato momento em que a vi. Será que era isso mesmo? Estar apaixonado com 6 anos de idade? Sei lá, mas era algo que eu nunca havia sentido antes. Era um desejo de estar perto dela, de vê-la, mesmo que distante, ali com o seu avô.

Ela tinha a minha idade (me parecia), tinha os cabelos lisinhos escorridos, usava um maiô estampado só com a parte de baixo e era do meu tamanho. E eu, tinha o cabelo lisinho escorrido, usava um shorts simplesmente igual ao dela com a mesma estampa. Além disso, tínhamos os traços impressionantemente parecidos, como se fôssemos gêmeos. Tal fato é tão verdadeiro que o avô dela costumava pegá-la no colo e jogá-la na piscina de onde ela voltava nadando de cachorrinho, mas que naquele dia se confundiu. Ele, olhando pra mim, me pegou pelo colo, pensando que fosse a neta, e me arremessou piscina a dentro. Mas nós tínhamos uma pequena diferença: ela sabia nadar de cachorrinho e eu não. Bom, quase morri afogado e fui retirado da água por algum salva-vidas, tossindo horrores e apavorado! O avô só descobriu que não tinha jogado a neta, quando, após me arremessar na piscina, viu sua linda netinha ao lado e um toco de gente afundando no meio da piscina.

Ela nunca me deu a menor bola, acho que nem reparou que eu existia. Acho que ela nem pensava nessas coisas, afinal tinha 6 anos de idade e queria mais era brincar e se divertir. Mas foi a primeira vez que eu senti uma pontinha de dor por não ter os olhos de quem eu gostava voltados pra mim.

Após esse incidente, nunca mais a vi na piscina com o seu avô. E toda vez que eu ia no clube e não a via, pensava: amanhã ela virá. Mas isso nunca aconteceu e os anos passaram... muitos anos se passaram.

Em um certo dia, comentando com a minha prima e com a minha mãe sobre a história, minha prima disse que a menina dos cabelos ao vento era irmã de uma grande amiga dela. Então, no embalo, disse a ela que gostaria de saber como ela estava hoje em dia e se ainda se parecia de alguma forma comigo. Era mais uma curiosidade que tinha ficado nos meus 6 anos de idade, mas que, pela oportunidade presente, valia à pena ver o que os anos fizeram com as duas crianças que brincavam na piscina do Praia Clube.

Consegui o contato da casa da mãe dela e liguei contando a história. Bem, a história não colou muito e a mãe ficou achando que eu era um pirado que poderia fazer mal a filha, que naquela altura do campeonato estava casada e com filhos. Eu até tentei mais um pouco por intermédio da minha prima, mas sem sucesso. Me acharam louco mesmo. Um louco que preza suas lembranças e glorifica o seu passado.

Enfim, não pude reencontrar e matar a curiosidade de saber como estaria a menininha que me encantou aos 6 anos de idade. Uma pena. Era uma curiosidade na melhor das intenções, apenas por querer saber como ela seria tantos anos depois.

Mas permanece a lembrança desse episódio, na minha tenra infância, aos 6 anos de idade. Talvez fosse até um traço meio narcisista (considerando que ela era a minha cara) se apaixonar como que pelo espelho... sei lá...

Saudades de uma fase singela, de uma infância pura e de um bem querer de criança descobrindo o mundo e os sentimentos que o habitavam naqueles idos anos, cheio de cores e de diversão, onde o mundo ao redor era imenso demais para que eu pudesse abraçá-lo, mas pequeno demais frente a minha sede em conhecê-lo.

Sobre todas as coisas...

O amor é sempre o ponto de congruência das coisas. Tudo gira em torno dele. No entanto, não sei se posso discursar sobre o amor. O amor é o sentimento mais indizível do mundo. Por mais palavras que possam ser ditas, o amor é a única forma de traduzir um sentimento. Pois ele o é em toda a sua plenitude.

Mas o que conheço eu do amor se não consigo amar o meu próximo. Se não consigo estender a mão a quem precisa de mim. Se sempre fui um individualista voltando meu pensamento ao meu benefício. Lá estou eu me criticando. O amor não critica. O amor suaviza os ânimos. Na crítica inexiste o amor.

O amor está em cada gesto que eu gostaria de ter dado. O amor é tudo aquilo que explode em mim, mas que eu não compartilho. É a representatividade da vida que eu gostaria de levar. E se não a levo não é por falta de amor, é por falta de comprometimento com ele.

Acordar de manhã é um ato de amor. O amor quando é despertado preenche o quarto. Preenche a alma de quem acabou de sonhar. E mais: prolonga o sonho. Pois a vida nada mais é que um sonho. A cada dia se sonha de uma maneira diferente. O amor não se repete. O amor sempre inova. O amor renova a energia de quem o sente. Na verdade, o amor é a inesgotável fonte ansiada.

O tédio é a antítese do amor. O tédio é a morte dos sentidos do homem. O tédio é a morte do homem. É o abandono de seus ideais de vida. É como a pretensão das palavras ao se referirem ao amor. No amor não há nomenclaturas. O amor é aquilo que nos é mais caro, e no entanto, torna-se a cada dia mais raro.

A falta de amor é como a ausência de ar. O ar que esvazia os pulmões, o amor que amortece a alma. É uma constante asfixia. É uma bússola sem rumo. É um vazio no peito. Uma dor que não encontra um jeito.

O amor é sempre presente, mas é o invisível. É aquilo que não se vê, mas se sente. É o ar que se respira sem se dar conta disso. É o ar que mantém acesa a chama do mundo. Pois na falta de amor há um abismo. Na falta de ar há um vácuo.

Mas o que sei eu sobre o amor...eu nada sei sobre isso. Respiro porque é instintivo. Durmo porque me cai o sono. Sigo porque a estrada existe. Não questiono, apenas caminho.

Antes de partir...

Antes de partir levarei saudades. Saudades das pessoas que marcaram minha vida de uma forma indelével. Saudades daqueles que nas horas ingratas, postaram-se junto mim, ao meu redor, ao meu lamento. Terei partido com a certeza de ter vivido cada segundo que me foi permitido pelos Deuses, de uma forma que eu possa ter gravado n'alma das pessoas que comigo conviveram sem esperar nada em troca, apenas a minha singela companhia. Daqueles que bravamente lutaram por seus sonhos e não se deixaram abater... e mesmo que tenham caído, que se tenham levantado mais uma vez e mais uma vez. Quero ser eles, em sua coragem de sempre seguir em frente.

Quero poder adormecer um sonho infindo e acordar do outro lado, como quem renasce novamente, como semente no ventre da mãe. E que o outro lado não seja necessariamente de anjos e nuvens e harpas. Que o outro lado seja de uma paz infinita, mas regado à música, a bons papos, a pessoas divertidas e cheio de árvores e pássaros e cachorros. Não precisa ser perfeito, mas que seja pelo menos humano, com seus erros e acertos. Lá eu quero sentar ao pé de uma árvore que dê boa sombra e me lembrar sorrindo das alegrias que eu deixei aqui e de como eu fui feliz durante minha jornada terrena.

Quero deixar a bagagem que pesa para trás e só levar as coisas que couberem dentro do peito, leves como os ventos que levantam a areia do deserto e atravessam os mares para repousarem em terras além mar. E que pessoas queridas, conhecidas e aquelas que eu não tive tempo de conhecer, me esperem para uma grande recepção de boas-vindas, como o filho pródigo que à casa torna. Que as paisagens de lá sejam como as pinceladas de Monet, Renoir e Van Gogh, úmidas com cheiro fresco e que gerem uma impressão indizível, como o impressionismo em sua grande arte.

O tempo urge mas ainda há tanto tempo... Nem eu sei quando eu partirei, mas a partida é certa. Enquanto isso, que me seja permitido viver sem grandes fúrias, sem grandes devaneios, sem grandes turbilhões. E que o vulcão adormeça dentro de mim e que a mansidão invada a minha alma louca e doente, que às vezes ri, que às vezes chora, mas que antes de tudo... vive profundamente.

O mundo em branco e preto...

De fato, olhando hoje para trás, vejo que muitas vezes me senti fora, com uma sensação de não pertencer àquilo tudo a minha volta. A insegurança foi minha companheira de longa data, e não podia ser diferente na minha adolescência, onde quer se provar de tudo e a todos que nós fazemos a diferença, que nós marcamos um espaço nos grupos sociais.

Para sobreviver a mim mesmo, criei desde pequeno uma carcaça de agressividade e braveza. Era respeitado por isso no colégio e só por isso. Hoje eu vejo que eu poderia ter feito muito mais diferença com a minha música, com as minhas idéias e com as palavras que escrevia. Eu era temido pelos rapazes e admirado pelas moças, por ter um jeito meio blazê e diferente de ser, de sorrir um sorriso tão raro que quando ele acontecia se destacava esteticamente no meu rosto. O meu sorriso era uma unanimidade, não pelo fato estético propriamente dito, mas por ser tão raro.

Essa casca de seriedade era tão densa que me impedia de ver até os olhares mais ternos dirigidos a mim. Por isso sempre fui de poucas namoradas, mas de longos relacionamentos, pois quebrada a casca, eu era intensidade pura: um vulcão em ebulição. Hoje, avaliando essa época passada com a maturidade dos anos, percebo que eu já tinha depressão desde a tenra idade e que muitas vezes o mundo se descoloria em branco e preto, abrindo um imenso buraco no chão, no qual eu caia em camera lenta, numa imensa dor e desconsolo.

Naquela época não se falava em depressão, pois não era coisa de pessoas normais e muito menos de jovens. Mas a diferença entre o hoje e o ontem é que hoje a depressão é discutida abertamente, temos remédios que a controlam. Naquela epoca a gente entendia ela como uma profunda tristeza sem razão de ser. O máximo que eu me permitia era me achar um tanto quanto melancólico e canalizava tudo isso para a música. Comecei a estudar violão aos 8 anos de idade e nunca mais parei. Estudava 7 a 8 horas por dia e aquilo me preenchia de uma maneira ímpar. Me preenchia o enorme vazio que me habitava.

De vez em quando, lia textos sobre o meu signo, capricórnio, e achava que essa tristeza, esse andar sozinho e vago era a minha herança astrológica. Pra ser sincero isso às vezes me acalentava, pois era uma explicação ao menos. A depressão me acompanhava na maior parte dos momentos, mas não em todos. Houve épocas em que eu vivi sem ela e o sentimento de inapropriedade se afastava de mim. Isso poderia durar dias, meses, ou até anos. Mas ela sempre voltava para andar ao meu lado. E isso perdurou durante anos, até 2005.

2005 foi um ano atípico na minha vida. Tudo que poderia ter acontecido, aconteceu. Tanto nas questões afetivas, de relacionamentos, de trabalho, de amigos, de incertezas, de tudo. E de ruim, sob a perspectiva da época. Hoje eu vejo aquilo tudo com bons olhos. Não na época não foi bem assim... 


Naquele ano, mais precisamente no segundo semestre, eu conseguia ficar sentado na poltrona da sala, parado, olhando para um ponto fixo na parede por horas. Quase sem piscar, pois as lágrimas mareavam o olhar e entorpeciam a necessidade de piscar. Era uma dor tão profunda que eu nem sabia de onde ela vinha. Não tinha vontade de fazer nada. Nada fazia sentido. Nada se encaixava direito. Eu havia dobrado os joelhos. Eu estava caindo. Foi quando recebi pela primeira vez o diagnóstico: depressão. Finalmente alguém havia me dado uma explicação para um dos maiores enigmas da minha vida. E melhor, agora eu sabia o que era e como tratá-la.

Comecei a me medicar e a me erguer novamente. Na verdade, de uma maneira que nunca havia me reerguido. É um remédio milagroso, sem dúvida. Já parei umas duas vezes de tomar, mas a velha amiga voltou com força total. Tomarei remédio pelo resto da vida? Não sei, e se querem saber, pouco me importa. O importante é permanecer bem com remédio ou sem remédio. Essa é a minha opinião. Há quem ache que depressão é corpo mole, que é só pensar nas coisas boas que se tem que ela vai embora. A depressão é um desequilíbrio químico do cérebro.

Diz um amigo meu, médico, que as pessoas mais interessantes que ele conhece são um pouco depressivas. Que grandes poetas eram depressivos e que grandes seres humanos que passaram pelo mundo também o eram. Como eu também sei que grandes pessoas fizeram grande diferença no mundo sem ter que conviver com ela.

Nos textos que eu leio, nos diversos blogs que visito, parece que eu sinto um "quê" dela em quem escreve. Não todos, mas uma parte dos blogueiros que eu leio me parecem meio depressivos, mesmo que o texto seja sobre algo engraçado. Parece que está no DNA da escrita, é perceptível.

Seja lá como for, qualquer coisa vale à pena, para que eu possa me sentar diante deste computador e transbordar o que eu sinto, as coisas que eu acho e as percepções que tenho. Poder fazer isso é sem dúvida enriquecedor. Poder compartilhar minhas experiências com outras pessoas que eu nem conheço, mas que compartilho a palavra como a um irmão de sangue é inexplicável.

Na vida, tudo tem remédio. Que bom.

O meu jardim...

Há quem mal diga a auto-ajuda. Eu respeito, pois da forma como colocam de fato parece uma fábrica de ganhar dinheiro. Mas auto-ajuda é apenas uma nomenclatura, nada mais. O importante é que trata-se de uma maneira de encarar a vida sabendo que a gente tem o dom de mudar e seguir os caminhos que quisermos. Isso é livre arbítrio. Isso é buscar os sonhos como eu coloquei em um post anterior. Você pode acordar e e decidir fazer o bem, como pode decidir fazer o mal. A gente sempre tem, no mínimo, duas opções, dois caminhos a seguir.

Você pode escolher viver junto de alguém ou não. Pode escolher crescer profissionalmente ou não. Pode criar amigos e cultivá-los ou não. Pode escolher dormir cedo ou varar a madrugada. Pode escolher ficar no seu emprego o resto da vida (ou até que te mandem embora) ou montar o seu negócio. Pode escolher reagir aos fatos externos como um espelho ou emanar, gerar os fatos externos. Pode passar por uma experiência e achá-la ruim ou devastadora, ou pode torná-la um aprendizado. Você pode qualquer coisa. Essa é a questão. O nome que dão a isso não importa. O nome é simplesmente irrelevante.

Há 25 anos atrás, em uma sexta-feira de uma noite quente de dezembro eu estava extremamente triste. Tinha 20 anos e tinha acabado um relacionamento de 4 anos com alguém que eu amava muito. Com alguém que eu tinha toda a segurança do mundo. Com alguém que escolheu ficar com outra pessoa e terminar um longo relacionamento. Eu estava desesperado, pois quando se é jovem, imaturo, isso parece o fim do mundo. Você pensa que não vai amar ninguém mais, que sua vida sem determinada pessoa não tem mais sentido. E a sensação de se sentir rejeitado é uma das piores do ser humano. É uma das piores armadilhas que a nossa mente nos prega. Porque nos escancara a nossa própria rejeição.

Mas, como tudo na vida tem sempre um porquê, lá pelas 23:00 daquela sexta-feira eu resolvi ler um livro que minha mãe tinha e há muito me falava. Chamava-se "Você pode curar sua vida", de uma autora chamada Louise Hay. Apesar da dificuldade em ler qualquer coisa pois o choro era ininterrupto, aquele título me chamou a atenção. E naquele dia eu comecei a ler o livro. Li numa tacada só, e lá pelas 4 da manhã eu já havia terminado. E alguma coisa tinha mudado dentro de mim. Eu absorvi de tal maneira o que estava escrito, que pela manhã eu estava em um estado que, anos mais tarde, eu chamaria de "estado expandido de consciência". Eu precisava tanto de uma luz que aquele livro foi um clarão na minha vida.

A partir daquele dia, eu comecei um processo de reprogramar minha consciência para trabalhar a meu favor. Há 25 anos eu tenho feito isso. Há 25 anos eu planto essas sementes pelo chão. E colho, colho frutos ou ervas daninhas. Depende do que eu planto. Como bom ser humano, nem sempre eu planto o que seria bom para mim e colho os frutos disso. Mas mesmo assim, eu reconheço em mim a capacidade de mudar na hora em que eu quiser. De replantar e de replantar indefinidamente. Eu passei a assumir o controle. Eu passei a ter fé nos meus sonhos. E quer saber? Eles se realizaram e continuam se realizando. Eu não culpo o externo por qualquer coisa que seja, eu assumo a responsabilidade e reverto o efeito. Sou perfeito? Anos luz disso. Mas sou um navegante incansável.

Ainda tenho muito o que melhorar, nossa!, e como tenho. Tenho muito o que perdoar. Mas eu não me arrependo das minhas escolhas pois elas foram "minhas escolhas" e não de outros. Eu sigo as coisas que o meu coração diz que eu tenho que seguir. E o nosso coração, ou intuição, como queiram, sabe exatamente onde devemos ir.

Depois de muitos anos, eu montei o meu negócio, da maneira que eu queria, do jeito que eu imaginava. Eu nunca sonhei em ter um negócio, nem nunca pedi isso ao universo. Mas eu sempre procurei vibrar uma energia de unir trabalho e prazer e não ao contrário, como muitos de nós aprendem com os respectivos pais: "trabalho é árduo, é sofrido ganhar dinheiro, tudo na vida vem com muito esforço". Definitivamente, eu não acredito nisso. Se você faz algo que gera uma sensação boa dentro do peito, esse é o caminho certo. Se o teu caminho gera alguma insatisfação, mude imediatamente de caminho pois esse não é o caminho certo pra você.

Cada vez mais eu sigo o meu coração e a minha intuição. E os dois nunca me levaram a um caminho que não fosse bom pra mim. E isso me traz muita fé, não a fé religiosa, mas uma fé inabalável no processo da vida. E a gente tem que ser o que a gente prega. Os resultados tem de ser compatíveis com o que a gente vibra. Antes de escutar o que alguém tem a dizer, eu avalio a vida de quem está dizendo. Isso te dá a direção.

Pois a vida é um enorme campo a ser semeado. Cabe a nós escolher que tipo de semente plantar.

Uma carta aos anos vindouros...

Talvez um dia vocês, os anos que compõem o tempo da minha vida, olhem para trás e vejam o quanto eu percorri. Por todos vocês que passaram por minha vida, cada um em momentos cruciais do meu aprendizado e por todos vocês que estarão comigo pelo caminho que se inicia, eu agradeço. Eu agradeço por tudo o que me foi proporcionado ao longo dos anos que passaram e principalmente a vocês que compõem o tempo que está por vir.

Agora eu chego à metade dessa aventura terrena. É como virar uma ampulheta. Sim, foi um longo caminho até aqui e aqui começa um novo longo caminho pela frente. Neste exato momento eu estou olhando pra trás e agradecendo por tudo aquilo que me aconteceu na vida e que me preparou para esse outro tanto que está por vir. Nas minhas lembranças estão pessoas queridas que passaram e que plantaram um semente dentro de mim. Talvez elas próprias não saibam disso, mas lembro-me detalhadamente de cada uma delas.

Algumas permanecem comigo, mas a maioria se perdeu no tempo. Amigos que compartilharam momentos únicos ao meu lado, aprendizados que me permitiram crescer tanto. Tive amigos, mas poderia ter tido mais se soubesse o valor da doação, da partilha. Mas isso eu vejo com meus olhos de hoje, portanto, o passado foi o melhor que poderia ter sido. Poderia ter feito muitas outras coisas? Sim, poderia. Mas não fiz. E foi justamente por não tê-las feito que sou o que sou hoje. Nem mais nem menos.

Amei muito, desde quando conheci o primeiro amor, a primeira tremedeira ao primeiro encontro, o primeiro coração saltando na boca e aquele nervosismo irreparável. E por todas que eu amei, uma lembrança ficou guardada. Lembro de cada uma delas e a todas eu dedico especial carinho. Mulheres que me ensinaram o primeiro beijo, o primeiro sexo, a primeira separação, também aquelas que me ensinaram a seguir o caminho, a decidir entre escolhas, a rumar na vida, a buscar o primeiro trabalho, a entender as emoções que brotavam no peito e nos olhos, e a compreender-me como ser humano, com limites, falhas, qualidades e sonhos. A todas elas, e em sua devida época e momento, eu me dediquei de corpo e alma. E amei-as. Amei-as de todo o coração.

Aos amigos que se perderam no tempo (alguns no caminho), também guardo no peito. A todos eles que, mesmo que por um breve momento, estiveram trilhando passos iguais aos meus. E se o caminho se bifurca e separa é porque a vida é assim, cheia de encontros e desencontros. Mas intensa... sempre. Pois o que guardamos é a intensidade do que sentimos e não por quanto tempo sentimos.

Os últimos anos foram decisivos para me preparar para essa nova fase onde a vida recomeça de um novo tempo e espaço. Agora, eu posso trilhá-la com mais sabedoria, com mais paciência, talvez, com mais compartilhar, com mais dedicação. É tempo de colheita de tudo o que se plantou na vida. Mas continuo semeando sempre, e esse é um dos aprendizados maiores.

Aos anos vindouros, eu os espero com um leve sorriso no canto dos lábios que a maturidade dos anos me trouxe. Em 2009 começa a segunda parte da minha vida, não menos importante que a primeira, mas nova. Sem planos, sem promessas de ano novo. Apenas seguindo o que eu sempre segui na vida: o coração. E tendo ao meu lado uma mulher especial que escolheu, há 15 anos atrás, compartilhar esse caminho comigo. Só isso. Simplesmente isso. Seguindo o fluxo da vida e sabendo que ela me será boa. Sempre. Como as águas de um rio que correm em sua velocidade exata, ultrapassam obstáculos durante o percurso, com a enorme certeza de que um dia se encontrarão com o mar.

E a todos aqueles que se foram, que permanecem e aos que ainda virão, que os anos vindouros sejam de uma riqueza infinita e constante, que a sabedoria guie seus passos e que a vida flua como as águas do rio, constantes e sábias, por onde quer que corram.

O olhar do observador...

Hoje eu tinha um tempinho livre na parte da tarde e resolvi passear com a Meg, minha cachorra. Para ser sincero eu tenho um tanto de preguiça de sair com ela, apesar de quando estamos juntos no meio das árvores eu até que gosto bastante. Na verdade, o que eu não gosto é de levar ela pra fazer exercícios, tantas voltas na praça ou tanto tempo caminhando. Não. Eu gosto de passear prestando atenção nas coisas, e isso não se consegue cronometrando no relógio ou tendo que ficar girando numa praça arborizada

Eu gosto de caminhar olhando as árvores, os passarinhos, prestando atenção nos detalhes da natureza. Sou daqueles que presta atenção em formigas quando elas seguem em sua labuta interminável, levando mantimentos para o ninho, em filas métricas e geometricamente precisas. Meus ouvidos ficam mais aguçados para um pio de passarinhos recém saídos dos ovos, em seus ninhos, clamando por uma gorda e suculenta (?) larva. Observo o verde das árvores e pego uma folha, esmago-a nos dedos para sentir o cheiro que exala. Vejo as várias tonalidades de verdes, azuis, vermelhos e amarelos que compõe a praça perto de onde eu moro.

Por ser um observador atento, eu descubro flores pelo caminho. Literalmente. E quando as encontro, paro sem pressa nenhuma me agaixo e fico observando os detalhes das cores, das formas e me perguntando do porquê dela ter nascido assim, sozinha, longe de qualquer outra da espécie. Eu regojizo-me com a natureza. E para que isso aconteça, é preciso calma e passos tranquilos.

Há muitos anos atrás, eu me lembro que ia no sítio de uma tia e lá havia uma bela cachoeira que desaguava de um lago artificial. Eu adorava ir lá para tomar um banho gelado e depois deitar na grama, onde, sem muita cerimônia, as borboletas vinhas beber as gotas de água do meu corpo ainda molhado pela ducha de água pura e cristalina. E eu ficava imóvel só para não incomodá-las e as ficava observando. Eu sou um homem de atenção, com um olhar observador.

Existe um livro chamado "O Senhor das 3 Energias - Ensinamentos de Mathetes Gurco, Homem de Atenção", que trabalha o tema do olhar atento. É um livro filosófico que nos mostra o quanto é importante estarmos em um estado de atenção. Vejam bem, não confundam com um estado de alerta, rígido, mas sim um estado onde os canais estão abertos para captar e perceber as energias do mundo, sendo elas das coisas, das pessoas, da natureza, de tudo. A mente, a emoção e o físico são as 3 energias

Ao olhar do observador atento, nada passa, tudo se transforma em mensagens. Umas estéticas, umas inusitadas (como a imagem acima, do coração criado entre as árvores), umas sensoriais, mas todas com um significado maior do que simplesmente o que se vê.

Eu observo e procuro o entendimento do que vejo e depois do entendimento deverá vir o uso prático do que se entendeu. Pois o sábio é aquele que pratica o conhecimento e o tolo é aquele que apenas o acumula.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Casa antiga em Ribeirão do Tangará...

Todos os dias eu passava por aquela casa rústica, no final na rua do Macatú. Era uma rua longa, com uma leve ladeira toda fundada em pedras-sabão, pedras do tempo do Imperador, do tempo das colônias de café. A casa, não chegava a ter um estilo colonial clássico, mas tinha em suas janelas curvas superiores como que fossem inspiradas nas abóbadas das grandes catedrais. Na parte de cima das janelas, repousavam em semi-círculos, em meia lua, delicados mosaicos coloridos, das cores das mesmas pedras semi-preciosas que geraram riquezas na região do Ribeirão do Tangará, há muito tempo atrás.

Logo cedo, vinha de dentro da casa um cheiro gostoso de lenha queimando num antigo fogão feito de barro e ferro. A senhora que morava lá, antes que o galo cantasse, já estava sovando a massa de pão que iria assar por meia hora e sair crocante e defumada de dentro daquele tabernáculo de tijolos de barro. E logo que o sol apontava no horizonte, a mesa já estava posta, com queijos de dois tipos, requeijão de corte, doce de cidra, leite morno tirado em uma fazenda próxima, biscoitos de polvilho, pães de queijo fumegantes e o pão de forno à lenha. Essa mistura de aromas se espalhava pela rua e não havia quem não sentisse uma pontada de vontade de se fartar naquela mesa comprida, talhada em Jacarandá da Bahia, e onde repousavam as mais diversas iguarias feitas à mão.

Essa minha quase procissão, ocorria todos os dias ao passar por lá. Diminuía o passo pra poder absorver todas as sensações que vinham daquela casa antiga. Do portão podia se ver o jardim iluminado de flores com maços de chuva-de-prata e camélias, além de um roseiral amarelo que contrastava com a textura terracota das parede e da enorme porta de entrada em embuia maciça. Era uma pintura impressionista, como se tivessem sido pinceladas com toques curtos e rápidos de Monet, Van Gogh ou Renoir. Ao olhar atento, tudo ali era nostálgico e bucólico.

Diziam que a senhora que morava lá era viúva de seu Lindoval, antigo habitante da cidade e honorário cidadão que se destacou na política local e na busca de progresso para a pequena cidade. Mas o que é o progresso de uma cidadezinha perdida, quase provinciana. ele se foi e deixou-a bem de vida, com os filhos todos rumados. Às vezes, um ou outro ia visitá-la com os netos e a casa movimentava. Mas na maior parte do ano, ela vivia sozinha, com suas memórias e com os mesmos rituais que fazia quando seu marido era vivo.

Não que houvesse tristeza em seus olhos, mas uma profunda nostalgia de um tempo que ficou no passado. Até o ritual de preparar essa mesa de jacarandá todos os dias era para não se esquecer do passado. Apesar de lhe fazer companhia apenas um senhora negra, neta de escravos da família, ela vivia como se o tempo nunca tivesse passado, os filhos nunca tivessem crescido e o seu marido nunca tivesse morrido há tempos. Talvez fosse uma forma de cristalizar na lembrança seus momentos felizes. Afinal, como será viver com alguém durante décadas e de repente, se ver só no mundo, sem ter com quem compartilhar os dias, a comida, uma xícara de café, o leito, os assuntos mundanos de uma cidade esquecida no tempo.

Mas eu, mesmo sem nunca ter entrado naquela casa, me transportava pelos aromas e pelas histórias calcadas nos vincos das paredes daquela casa antiga, nos breves momentos em que passava por ela, seguindo o meu caminho. Meus passos eram passos processionais em frente àquela casa quase religiosa, e aquela senhora envolvida nos seus rituais como se fossem preces, para que pudesse seguir em frente, sem nunca pensar no futuro, apenas tornando suas lembranças passadas em algo que a mantivesse viva no presente.

Alguns anos depois ela se foi. Sem deixar amigos, herança ou quem cuidasse daquela casa antiga. E eu percebi que no meu caminho, aqueles aromas e sensações não existiam mais. Tinham partido com ela. Os roseirais já não haviam mais, nem suas camélias. Apenas um pequeno ramo de chuva-de-prata ainda resistia no jardim, por detrás do portão.

Hoje eu trago aquele pequeno ramo guardado dentro das páginas de um livro que fica à beira da estante, como que tentando eternizar aqueles momentos em que descia a rua de pedra-sabão, onde ao final dela, havia uma casa antiga com seus aromas. Onde havia uma presença bucólica e nostálgica no ar.

E toda vez que eu abro o livro nas páginas onde se encontra o ramo seco, eu me lembro daquela senhora, da sua história e da sua solidão por anos a acompanhá-la, até o fim de seus dias. Pois esse ramo que guardo comigo até hoje é a única herança que restou daquela casa antiga, ao final da rua Macatú, daquela senhora ausente de seu presente, mas que iluminava o seu passado como as fagulhas da lenha estalando naquele fogão de barro, em tempos idos nas bandas do Ribeirão do Tangará.

The Book of Dreams...

"Há quem diga que todas as noites são de sonhos.
Más há também quem garanta que nem todas, só as de verão.
No fundo, isso não tem importância.
O que interessa mesmo não é a noite em si, são os sonhos.
Sonhos que o homem sonha sempre, em todos os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado."

(Shakespeare - Sonhos de Uma Noite de Verão)

O sonho é um portal desconhecido onde tudo é possível. Nossa vida é, em síntese, uma eterna busca pelos sonhos. É um caminhar constante e incansável. Eu acredito que tudo o que temos foi sonhado um dia. Esse é o primeiro passo. Ás vezes o sonho ficou tão distante que nem mais nos lembramos dele. Mas ele foi sonhado. Foi sonhado e desejado com toda a fé que um ser humano é capaz de depositar em algo inexplicável.

Sonhamos com a pessoa amada, a idealizamos da forma mais bela que a criação possa concebê-la. E o belo aqui, não é puramente estético, mas conceitualmente a união de diversas qualidades únicas, que enxergamos apenas no objeto no nosso amor. E como esse sonho nos cega deliciosamente para todo o resto que não seja a pessoa amada. Por um momento, o universo é desprovido de interesses e prazeres e nosso olhar só existe em uma direção. Nada mais importa e nada mais tem relevância. É um sonhar acordado, sentido em cada suspiro, em cada toque, em cada palavra ouvida através da voz mais doce do mundo: a outra. Perdemos o nosso poder de discernimento e de razão e de consequências. Mas o que importa? O que importa é que nos relacionamos cegos e impreterivelmente apaixonados. A paixão é simplesmente enxergar um "Deus" no outro.

Sonhamos, desde pequenos, com o futuro que a vida nos reserva. Sonhamos em crescer, amadurecer, nos apaixonar, em termos uma família, algumas vezes filhos, com uma vida confortável e uma velhice cheia de tranquilidade e sabedoria. Mas não sonhamos tudo ao mesmo tempo. Sonhamos em partes. Sonhamos sempre os sonhos mais próximos. Mas os sonhos se alimentam de fé. Sem fé, eles não passam de meros devaneios.

Somos compelidos a separar o sonho da realidade. No entanto, o sonho é uma pré-realidade. É a partir dele que a realidade se cria. Sem os sonhos, somos almas sem luz no dia e na noite, espíritos que divagam a esmo, sem razão de ser, apenas seguindo como as folhas soltas das árvores seguem o vento que passa.

A vida é fruto dos nossos sonhos. Por isso sonhe. Sonhe bastante. Não deixe de acreditar nunca. Sonhar é um exercício poderoso. Sonhar alimenta os homens e cria milhões de mundos. E tenha fé, pois a fé é uma crença em algo que "ainda" não se pode compreender. Mas o que é a compreensão diante do mistério absurdo que é a criação?

Bons sonhos!

O Planeta Terra...

Ouço muito dizer que o planeta está se acabando e se nós, seres humanos, não fizermos algo não restará planeta ou condições adequadas de vida para as futuras gerações. Mas então, me vem essa frase (ou algo parecido com isso) que eu li em algum lugar:

"Pensamos muito em que tipo de planeta deixaremos para os nossos filhos, mas não pensamos em que tipo de filhos deixaremos para o nosso planeta."

Recentemente eu vi no History Channel um documentário chamado: "A vida depois dos seres humanos". Nesse documentário eram trabalhadas várias hipóteses do que aconteceria com o planeta se os seres humanos, de uma hora pra outra, deixassem de existir. Em pouco tempo não sobraria muitos vestígios que pudessem comprovar que um dia realmente existirmos. Porque? Simplesmente porque o planeta é infinitamente mais forte que o ser humano. Prova disso é que já passou por diversas transformações ao longos dos milhões de anos e se tornou cada vez mais bonito.

Eu penso que existe uma grande hipocrisia sobre este assunto de salvar o planeta e de sustentabilidade.

Vejamos o exemplo das empresas. Grandes empresas nos últimos anos vêm abraçando causas sustentáveis, e as colocando como um posicionamento de marca. Existe a "Empresa da sustentabilidade", a "Empresa que cuida das florestas", a "Empresa que ajuda a capacitar os povos menos favorecidos", ensinando a extrair da natureza seu sustento através de um manuseio sustentável e renovável. Vamos ser razoáveis. 

Grandes empresas existem para gerar lucro aos seus acionistas. Ponto. Se ela gera lucro ajudando a comunidade ou não, isto é secundário. O lucro é o foco. O lucro é a missão da empresa. O lucro e seus derivados, são seus valores. Se ser sustentável não gerasse lucro, empresa nenhuma o seria e muito menos se posicionaria como tal.

Muita gente se preocupa com o planeta, não por causa do planeta em si, mas pelo fato de que, se não existir planeta ou condições de sobrevivência, o ser humano perecerá. Se a destruição das florestas não afetasse a vida do planeta, a maioria não iria querer salvar nada. Isso é o egoísmo do ser humano, salvar a si mesmo.

Eu acredito que existam pessoas com causas nobres em relação ao planeta e que de fato pensam nele. Mas a maioria está preocupada se vamos sobreviver a destruição que causamos e quanto tempo ainda teremos para usurpar um pouquinho mais o planeta.

Como foi bem dito no filme Matrix, o ser humano tem todas as características de um vírus que se propaga e destrói tudo o que encontra pela frente, infectando todo o sistema. Em biologia, diríamos tratar-se de parasitismo e não de mutualismo.

Portanto, daqui há décadas ou há centenas de anos, talvez não exista mais a espécie humana. Mas com toda a certeza, existirá o Planeta Terra.

Aposte no que você faz bem...

Há tempos eu venho ensaiando para desenvolver esse tema em um post. Não que eu já o tivesse escrito e reescrito várias vezes, mas sim, pensado nele em vários momentos da vida. Desde a tenra infância, na escola, na faculdade, na vida profissional e na vida pessoal. Ele sempre aparece.

Quem já não ouviu: "Você precisa trabalhar melhor esse seu ponto fraco!". O foco sempre está onde você não é bom. A cobrança sempre vai para aquilo que você não faz bem. E o que você de fato faz bem, fica sempre renegado a segundo plano. Se você é bom em educação física, precisa dar foco em matemática. Se você é criativo, precisa dar foco no seu raciocínio lógico. Se trabalha melhor sozinho, precisa dar foco em trabalho em equipe. E assim vai.

Eu sempre fui bom em artes, trabalhos que exigiam criatividade e raciocínio lógico. Sempre fui péssimo em física, química e biologia. Me dou bem com a palavra escrita, mas não com a oratória. Gosto do outono, não gosto do verão. Enfim, faço bem certas coisas e outras não. Como 100% da população mundial. Ninguém é bom em tudo, não existe isso.

Dos meus 25 anos para cá, venho priorizando as coisas que eu faço bem, visando fazê-las melhor ainda. E eu entendo que essa é a busca da perdida "Árvore da Vida". A busca do Dom que todo mundo tem. O que mais tenho visto são pessoas fazendo aquilo de que não gostam. Pessoas que, ou estão tão perdidas para intuir o seu Dom, ou se acham velhas demais para começarem o que sempre gostaram de fazer.

A nossa sociedade não estimula o dom pessoal, mas estimula a competição mediana. Todos devem saber tudo. Não basta ser um Einstein na física se no vestibular você for um lixo em redação ou história. Não basta mais falar inglês, agora todos devem falar espanhol ou uma terceira língua. Não basta ter curso superior, tem que ter MBA. Enfim, tudo conspira para que todos sejam iguais, pois apesar de cada indivíduo ser único, temos que ter conhecimentos iguais. Ou seja, vamos todos nos tornar medianos, sabendo de tudo um pouco e não sabendo nada bem, pouco de muitas coisas ao invés de muito de poucas coisas.

Eu sempre penso que a probabilidade de se ganhar dinheiro é inversamente proporcional àquilo que você odeia fazer. Quando se gosta do que faz, quando conseguimos enxergar onde somos bons e fortes, a gente faz melhor que todo mundo. E é aí que nos destacamos da multidão. E, pessoal: Não tem idade pra descobrir isso!. Se você descobrir o que de fato gosta aos 20, melhor pra você. Mas você pode descobrir aos 30, 40, 50, 60, etc. Mas descubra antes de morrer.

Conheci na vida profissional, mentes brilhantes que cursaram faculdades de "segunda" e mentes medíocres que cursaram faculdades de primeira. Não importa o quanto você sabe, mas sim o que você tem feito com o que sabe. Uma biblioteca fechada não é um espaço de conhecimento, mas sim um restaurante de traças.

Sei que conselho, se fosse bom, a gente vendia. Mesmo assim pelo menos reflita sobre isso: qual é o seu Dom? Uma dica: nos sentimos mal quando estamos longe dele e bem quando estamos perto.

Aposte no que você faz bem, mesmo que todos digam o contrário. O prazer está em conseguir manifestar o seu Dom neste momento, nesta vida. Todo o resto é consequência...

A prosa, um rio e o tempo...

Eu gosto de prosa. Poesia, às vezes. Dizem que proseiro é poeta frustrado que não se encaixou nas métricas, nas formas amorfas das palavras. Eu gosto de prosa. Prosa é fluídica e contínua. Poesia são palavras aprisionadas. Que me apedrejem os poetas. Os poetas são lindos e tristes. A melancolia é nata na condição da escrita. Penso em Vinícius e o seu poema de aniversário. Profundo, imensurável e apaixonado. A sua amada é a única existência plausível no universo. Mas por apenas um momento. Vinícius amou muito várias vezes. O seu estado era permanentemente de apaixonado, não necessariamente pela mesma amada. Foram 10 ou 11 esposas? A amor se aprende pela quantidade ou pela intensidade? É possível as duas coisas juntas? E aos amantes de uma amada só, o que lhes cabe? E aqueles cuja amada é uma fantasia, fantasiada por uma vida inteira? E aqueles que nunca amaram? Viveram? Dizem que felicidade não existe, o que existe são momentos felizes. Será? E o que mais é a vida que uma sequência interminável de momentos?

Penso no rio que passa atrás daquela casinha de madeira na qual permaneci emudecido. Vejo o rio e sempre ele. O rio tem alguma coisa comigo e eu com ele. Ele corre, ele vai. Ele não para para nada. Ele não vive momentos, pois o tempo lhe é contínuo. E ele é tão lindo! Seus seixos são as hemácias deste sangue translúcido e cristalino. O rio pulsa latejante. O rio não tem forma, pois a forma é limitadora. Pois a prosa é como um rio que se desforma pelo caminho. Não tem começo, nem meio, nem fim. As palavras devem correr soltas, sem amarras, sem regras, com um rio que nada sabe sobre si e só se chama rio porque alguém um dia o nomeou assim. Poderia chamar-se terra, furacão, vento. Qualquer coisa, que teria o mesmo significado pra mim. E mesmo assim, formaria seixos, limo e transbordaria vida por onde passasse. É um tempo sem fim. Uma prosa inacabada. Um rio. Três palavras e um sentido único.

Escrever é isso. Pois a intenção de quem escreve não é ser apreciado, mas libertado. Se há o certo ou se há o errado, isso é apenas um mero ponto de vista em total abstração aos olhos de quem lê.

A genética...

Pensar em genética, me vem imediatamente o nome geneticista. Quase que um esteticista dos genes. A genética é a grande questão e a grande resposta pra tudo. Ou quase tudo.

O seu cabelo tá caindo? Genética, meu amigo. Sua bunda está cheia de celulite? Genética, minha amiga. Cabelo bom? Genética de japonês. Musculatura definida? Genética dos negros. Enfim, a culpa é dos pais, dos avós, de toda a sua descendência, desde Adão e Eva. Acho até que a costela de Adão já tinha o gene da celulite e isso foi armação da cobra.

Hoje as grandes esperanças científicas da medicina estão baseadas na genética. A cura do câncer, da calvície, da Aids, da gripe, das viroses, enfim, de tudo o que dá de errado no nosso organismo. Errado? Bem, tirando as doenças, as questões estéticas são meros devaneios dos Narcisos. E o pior inimigo dos Narcisos são os próprios Narcisos.

Não existe ser humano perfeito, se não tem problema por fora, tem por dentro. Existe gosto pra tudo, pra gente baixa, alta, magra, gorda, cabeluda, careca, com celulite, com estria, com peito grande, com peito pequeno, sem peito, novo, velho, rico, pobre, inteligente, não muito inteligente, branco, negro, amarelo, verde, azul, genioso, amável, que transa todos os dias, que transa uma vez por semana, ou uma vez por mês, ou até os que não são muito chegados nas questões carnais.

Eu me lembro adolescente, super preocupado com os cabelos que caíam. Era o fim do mundo, uma facada na vaidade numa época onde isso faz toda a diferença. Hoje eu passo máquina 1 e tô feliz da vida.

Isso tudo pra dizer que o importante é a gente se gostar como é, sem mais nem menos. A perfeição em uma só pessoa é perfeitamente impossível, no meu ponto de vista. Nada desse negócio de ficam alisando cabelo crespo, enrolando cabelo liso. O ser humano é especial com as características genéticas que lhes são peculiares. E é essa mistura que torna a coisa boa.

Deixe a genética cuidar de doenças e vai cuidar de ser feliz!

Deixa o mundo todo queimar...

Com esta frase, estampada no meu face, alguns me perguntaram o porque de tanta raiva. Nenhuma. Raiva nenhuma. Essa é uma frase que faz parte de uma música do Vitor Ramil que eu gosto muito. Na música, não há o sentido de raiva, mas um sentido de que não importa o que está acontecendo, importa apenas o momento presente que estamos vivendo.

Você tem conta pra pagar? Que bom, você não é o único! Muitas contas? Estamos juntos! Às vezes a grana não dá? Bem vindo ao clube! Você tem problemas? Todos temos! A gente mata um leão por dia, para que não viremos almoço dos leões. Opa, só um por dia? Sim. Não dá pra matar uns 7 leões e ficar coçando uns 6 dias? Acho que não. Matar um leão por dia é enfrentar um dia de cada vez. Mês que vem tem que entregar tese? Pagar alguma prestação? Estudar para uma prova? Fazer aquela viagem? Escrever aquele post? Mas... se não der tempo? E se não der grana? E se não fizer sol? E se não formos os únicos neste imenso universo? E se... e se... e se....

Palavrinha de merda: e se! Pra que ficar abrindo as hipóteses futuras e ter que lidar com 1 milhão de possibilidades? Sim, porque são apenas coisas possíveis, não coisas que de fato irão acontecer. Mas o ser humano adora viver com a cabeça na frente (a única maneira de colocar a cabeça na frente é olhar pro chão... hum...). A gente tem um quê de querer sempre controlar o tempo, as coisas os outros. Ninguém quer envelhecer, porque envelhecer não significa amadurecer, mas apodrecer. Perder o viço, perder a tez macia, perder os cabelos, fazer o corpo cair, encolher, enfim, envelhecer.

Eu tenho 45 anos. Quando tinha 20 não pensava nos 45. Mas o dia chegou. O dia sempre chega, pensando nele ou não. Então, vivi bem os meus 20. Com os mesmos problemas que todos tem aos 20. Descobri que mudam os problemas. A tecnologia deixou os problemas mais velozes. Acontece tudo mais rápido, mas não tão rápido quanto a sua capacidade de resolvê-los.

Eu tenho vivido este momento onde sei que pra tudo tem uma solução. então, às vezes nem penso muito no problema, pois sei que existe sempre solução, seja ela qual for. A gente nunca recebe uma questão sem receber junto a capacidade de descobrir a resposta certa. É inevitável.

Às vezes, mesmo sabendo de tudo isso, dá no saco. A gente explode e manda tudo à merda. Mas aí vem o dia seguinte e nos renova uma coisa por dentro que nos faz seguir sempre em frente e descobrir todas as respostas. E isso tudo é bom. Explosão, respostas, problemas, soluções, amores, situações, relações e humores. Tudo isso é vida. Mas a vida é sempre o momento presente. O futuro é sempre uma suposição sem fundamentação...

Piscando os olhos...

Num piscar de olhos coisas acontecem. As coisas mudam de direção, pessoas vão e vem, o que hoje é incerto, amanhã poderá ser o certo.

Este é o primeiro post que escrevo da minha nova casa. No momento escuto Bach e suas toccatas. Não sou um fã de carteirinha de música clássica, mas Bach, Vivaldi e outros contemporâneos do período barroco me dizem algo. Gosto de músicas melódicas e Bach é melódico. Músicas com altos e baixos, finais apoteóticos não me aprazem. Em Bach, a próxima nota é sempre aquela mais adequada, sem sustos ou suspensões. Ela flui como o meu rio. Detesto ópera. Acho ópera uma uma coisa esganiçada e perturbadora. Apenas algumas árias são dignas de nota. Carmem, A Flauta Mágica, entre outras. Mas apenas as árias. Mesmo nas árias, Bach acertou na corda, mais especificamente na 4ª. Ária na 4ª Corda de Bach é um deleite.

Outro dia ganhei dois ingressos para a Sala São Paulo, em um concerto de câmara de cordas. Acho lindo cordas, violinos, violas e cellos, mas sou ignorante sobre música clássica. A música termina, ninguém bate palmas, daí você percebe que a música não terminou, terminou o primeiro ato dela. Só lá na terceira terminada é que o povo aplaude. Eles conhecem a sequência da obra, eu não. Eu apenas me delicio pelas cordas. Pelo som impoluto que vai subindo pela acústica do teatro.

Música é melodia. O resto é harmonia. Por gostar de belas melodias, por isso mesmo, desde criança, gosto de música New Age. Mas veja bem, não é aquele tipo de música que fica em um tom só pra você meditar. É música de alta qualidade, feita por músicos de alta qualidade, com melodias de alta qualidade. As gravadoras Narada e Windham Hill são um exemplo de como New Age pode ser belo e surpreender. Não tem nada a ver com som de passarinho, golfinho ou chuva caindo. É música boa e da melhor qualidade.

A música sempre me chamou a atenção. Desde os 8 o violão já me chamava encostado na parede de casa. Herança da época adolescente de minha mãe. Com o tempo, eu fui dando um novo sopro de vida ao instrumento empoeirado e virou meu companheiro inseparável por anos. Tenho que ter um violão por perto, mesmo que seja só pra sabê-lo estar lá. Preciso ouvir alguns CDs de violonistas de vez em quando. Parece meio que vitamina. Alimento de alma, entende?

Não sei se dá pra entender. Só quem mexe com algum tipo de arte entende o que a arte nos faz. Seja música, pintura, escultura, literatura, dança, enfim, qualquer expressão artística é alimento, é pão, é chão.

Eu acho que a arte existe para que possamos extravasar nossas loucuras, nossos medos, desejos, coisas que guardamos no fundo da alma e, que só através da arte, podemos explodir como um vulcão.